quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

SISTEMA MUSICAL-HERANÇA ANTIGA

Em matéria de teoria musical, não existe uma solução de continuidade entre a Antiguidade e a da Idade Média. Embora o respeito pela coisa escrita se torne uma obsessão, em prejuízo da imaginação, ainda assim devemos aos espíritos notáveis que recolheram a herança antiga e alimentaram sua reflexão o essencial de nosso sistema musical. A teoria grega evidentemente corrompeu-se no curso dos séculos, num mundo transformado pela cultura latina e pelo cristianismo.
.Desde o século XI, a teoria das oitavas modais torna-se preponderante na definição dos modos. Mas compreende-se cada vez menos sua estrutura, porque perdem pouco a pouco os outros elementos essenciais de sua diferenciação. Em breve não serão mais que aspectos da oitava, obtidos por permutação da nota de base.
Na teoria gregoriana, até o século XVI, distingue-se quatro finais: Ré, Mi, Fá e Sol, que determinam cada uma quinta modal característica, à qual se acrescenta um tetracorde, no agudo ou no grave, para formar a oitava modal. Se o tetracorde complementar estiver no agudo, o modo será dito "autêntico", se estiver no grave, o modo será dito "plagal". Trata-se, em princípio, de duas formas do mesmo modo, agudo e grave, que mais tarde foram considerados "diferentes" (maior e menor).
Em consequência de uma confusão nas nomenclaturas , os novos modos foram revestidos de falsa denominações. Assim, o primeiro "tom" eclesiástico (oitava ré a ré) foi rebatizado de Dórico, herdando da Doristi grega um primado que nada mais justificava. Esse erro curioso, jamais reparado, foi injustamente atribuído a Boécio, demasiado erudito para ser responsável por ele. O verdadeiro culpado seria antes o autor anônimo de uma compilação do fim do século X, "Alia musica". Ele provavelmente teria confundido nomenclaturas de "armoniai" e "tonoi", por um contracenso na interpretação do texto de Boécio. Eis como. Os musicos gregos haviam feito da palavra tropos (maneira) um sinônimo de tonos (tom, sistema de transposição). E Boécio fez bem em traduzir essa palavra por modus (maneira), que, em seu tempo, não tinha o sentido de modo musical. Mais tarde, fez-se referência a Boécio, sem aprofundar seu texto e sem compreender o que ele entendia por modus. Para cúmulo da confusão, traduziu-se mais tarde  "modus" por "tom" (os tons eclesiásticos), ao passo que a palavra latina não designava mais "tons de transposição, e sim "escalas modais" enfarpeladas de nomes gregos usurpados.
Ao contrario dos gregos, os teóricos da Idade Média não se preocuparam com a altura absoluta; por isso, a notação das melodias de cantochão não precisou atravancar-se com alterações. Só o SI bemol é utilizado, permitindo passar da forma "autêntica" de um tom à forma "plagal", sem mudar de textetura (âmbito).

Refer.: textos extraídos = 
            livro História Universal da Música (Roland de Candé). .

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