Quase três mil anos antes do nascimento de Cristo, numa época em que a
música do homem europeu talvez não fosse mais do que o bater de ossos
sobre troncos ocos, o povo da China já estava de posse da mais complexa e
fascinante filosofia da música que hoje se conhece. De onde veio esse
sistema fechado de misticismo musical, ou de que maneira se desenvolveu,
não se sabe. Podemos dizer apenas que a tradição da música clássica
chinesa é tão antiga que suas origens pertencem agora ao domínio da
lenda, perdidas além das névoas que limitam a extensão do olhar do
historiador moderno.
No sistema filosófico da China o número cinco era particularmente
importante, de modo que não admira que a sua escala musical também
tivesse sido pentatônica. Fenômenos de natureza amplamente diversa eram
categorizados em divisões de cinco, de sorte que cada uma das cinco
divisões estava associada a uma das cinco notas musicais. As notas dos
governantes, estações, elementos, cores, direções e planetas vêm
mostrados na Tabela 2. É impossível deixar de notar a importância
fundamental aqui atribuída a kung. Simbolicamente, relacionava-se com o
chefe do Estado, o elemento terra e o centro (de preferência a qualquer
outra direção da bússola).*
* Uma relação central semelhante entre uma e as outras quatro foi
reconhecida pelos gnósticos cristãos com respeito às cinco feridas do
Cristo crucificado: quatro feridas tias mãos e nos pés, e uma quinta no
torso, da qual emanou a pulsação do Verbo, exatamente como a quinta
corda da citara chinesa emitiu o kung. Simbolismo semelhante relacionado
com o número cinco se encontra nas diversas lendas e religiões de
muitas regiões do globo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário